Oi, Chalene e Schutze e LTDA...
Vou escrever logo antes que as sensações e impressões se tornem vagas em mim. Não tenho muito o que dizer. Gostei de ver o que vi. Adorei o exercício da Charlene. A relação dela com o celular, o texto, o lance com a fita adesiva, o favor de enxugar o suor dela... Enquanto ela estava realizando o kundalini (ou é kundaline?), enfim enquanto ela estava nesse momento, muitas imagens me passaram pela cabeça (ela fazendo sexo - quando ela enrolava a coluna; ela esperando o telefone tocar, como que esperando uma ligação - do namorado talvez; ela contando os quilos perdidos...). Viajei legal. Acho que depois que ela começa a circular pelo espaço já com a fita enrolada no corpo e transitando pelo planos alto, médio e baixo, meio que experimentando poses "sensuais" (se é que isso procede), isso poderia ser mais explorado, investir no exagero mesmo e depois cortar o que for excesso. Bom, isso se fizer sentido pra vocês o que eu digo. Gostei de verdade do experimento dela.
Do seu eu também gostei, porém de maneira diferente. Seu experimento ficou menos na questão de gostar e mais no que me despertou de imagens, de lembranças. Enquanto eu assisti me vieram à cabeça duas coisas: a primeira foi esse trecho aí em baixo, de uma novela do Caio, não sei porque, mas é um trecho que eu adoro e te ver metendo o dedo em todos seus buracos me fez lembrar dele de cara. E lembrei também (no momento que você engole a cueca) de um filme pornô que eu vi há muito tempo! kkkkkkkkkkkkk Era uma cena de dois caras transando e no fim um dos caras gozava na cueca e esfregava na cara do outro. Eu nem lembrava desse filme mais, mas de repente a imagem veio louca na cabeça!
Em termos de técnica ou coisa parecida não me atrevo a dizer nada, pois a proposta é bem inicial e além do mais os dois me pareceram bem conscientes de si e do seu propósito em seus respectivos exercícios. Lamentei não ver os outros dois, mas quero voltar no próximo ensaio. Me avisem quando for acontecer, ok?!
No mais, é isso. Gostei da experiência, e escrevo aqui puro instinto, as coisas que me passaram pela cabeça enquanto os assistia, sem querer entender muito, nem dirigir o que não é meu. Obrigado pelo convite, obrigado por valer à pena, obrigado pela pesquisa, pelo espaço... Obrigado! E merda!
E vamos nos falando...
Beijos!
Thiago
Pela Noite, novela de Caio Fernando Abreu.
"[...]- Amor não existe. É uma invenção capitalista;
- Isso é só uma frase.
- Eu não sei, pode ser.
- Mas se. Tudo bem. Suponhamos que os dois caras se gostem muito um do outro.
- O que já é difícil.
- Pode ser, mas. Suponhamos. Eu já vivi isso. E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro fo bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animas cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também. [...]"