Projeto Urucungo nas Cenas Urbanas - Festival Visões Urbanas SP - Foto Jschutze |
Acredita-se
que a improvisação vem sendo utilizada desde os primórdios da dança, mas foi no
início do século XX, que pesquisadores como Françoise Delsarte, Èmile Jacques
Dalcrose e mais tarde Rudolph Von Laban, investindo-se de pesquisas a respeito
da expressividade corporal passaram a utilizá-la mais sistematicamente em suas
pesquisas.
Nos anos 40, a
coreógrafa Anna Halprin, insurgindo-se contra o excesso de determinismo e
formalidade da dança moderna (leia-se Doris Humphrey e Martha Graham, por
exemplo), passa a adotar em seus procedimentos, o que mais tarde veio
denominar-se Improvisação Estruturada: onde os bailarinos tinham total
liberdade expressiva dentro de premissas ou parâmetros fornecidos pela
coreógrafa. Ainda nos anos 40 o coreógrafo Mêrce Cunningham tornou-se conhecido
pela utilização dos conceitos Zen-Budistas, em suas criações. Fortemente
influenciado pelo músico John Cage, seu parceiro artístico, nas suas obras o
acaso, sob a forma de sorteios ou escolhas aleatórias conduziam as
apresentações. Às vezes os elementos da apresentação: música, cenário,
figurinos, coreografia, luz eram criados e ensaiados separadamente e somente
nas apresentações se uniam pela primeira vez.
Foi,
entretanto, nos anos 60 em Nova York que a improvisação ganhou notoriedade na
dança. Afinados com conceitos culturais emergentes, a espontaneidade, a
equidade e a liberdade expressiva passam a tomar parte nas investigações
propostas pelo também emergente grupo de bailarinos que se reunia na Judson
Church no East Village, formando o grupo JUDSON DANCE THEATER. O grupo iria
reformular completamente os paradigmas da dança moderna, ousando colocar em
cena, não somente concertos de dança totalmente improvisados, como também
trazendo à cena corpos não treinados para a dança.
O conceito de
espontaneidade tanto estética quanto ideológica é fundamental para
compreender-se a improvisação como elemento incorporado pelos assim chamados
Pós-modernos (conforme as historiadoras de dança americana Sally Banes e
Cynthia Novak) do grupo JUDSON DANCE THEATER.
Como um
desdobramento das ideologias e práticas desse grupo surgem as pesquisas do ex atleta
Steve Paxton para a construção do Contato Improvisação, até hoje desenvolvida e
praticada por dançarinos de todo o mundo. Fugindo da dramaticidade e
psicologismos, e apegados a uma maior equidade, e liberdade expressiva, e às
leis da física do movimento, a partir de Paxton, pesquisadores veem
desenvolvendo técnicas onde do simples contato físico entre os corpos, a
coreografia e a composição são gerados
Seja como
exploração do movimento espontâneo do bailarino para uma posterior
sistematização da coreografia, seja como exploração da individualidade do
intérprete dentro de parâmetros ou tarefas pré-fixadas (improvisação
estruturada), ou na composição instantânea, como no grupo Judson Dance Theater,
onde a apresentação ou performance acontece de maneira totalmente improvisada, a
improvisação tem auxiliado pesquisadores na reformulação de conceitos e
práticas para a dança.
Na
improvisação o corpo é estimulado a uma maior atenção, não só ao ambiente ou
aos outros corpos que dançam, mas também a si mesmo e às próprias reações,
possibilitando o surgimento de até então desconhecidos ou inusitados modos de
reação e movimentos, tendo com isso a possibilidade e as vezes a necessidade de
recriar-se em sua corporeidade.
Quando
pensamos no corpo que dança como um corpo que incorpora informações percebidas
em tempo real, no meio em que transita, pensamos em instabilidade. O que o
corpo faz é buscar meios para estabelecer identidades e estabilidade na sua
permanência junto ao meio. Dessa relação surgem diálogos, onde a regra é a
continua reorganização de ambos.
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