quarta-feira, 27 de março de 2013

COMPOSIÇÃO COREOGRÁFICA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZADO



A organização do movimento corporal, individual ou em grupo, com finalidade estética, é o que caracteriza a composição coreográfica, e requer dos praticantes, entre outras,  noções de espaço, noções de tempo e uma execução especializada e estética do movimento corporal.
Segundo o pensador francês Edgar Morin, é através do aprendizado que o ser humano desenvolve as potencialidades da vida. Embora seja inegável a quantidade de competências que o estudo e prática das formas corporais no espaço-tempo (emprestando o termo usado pela artista pedagoga Fayga Ostrower) podem desenvolver, os estudos em neurociências e ciências da cognição ainda não podem responder com precisão que articulações cerebrais são exigidas ou desenvolvidas no esforço por tais aprendizados, nem confirmar exatamente se as competências adquiridas nessas áreas de conhecimento são transferíveis para outras áreas da atuação humana. Temos a forte intuição que sim.
Photo JSCHUZE - Denis e  Ana Carla - Festival Visões Urbanas SP
Para o neurocientista português António Damásio a consciência se desenvolve pelo, no, e para o movimento corporal. Para o biólogo chileno Humberto Maturana o corpo é a nossa possibilidade e condição de ser, e para a psicopedagoga Alícia Fernandez, no movimento o corpo sintetiza movimentos eficazes para apropriação do “em torno” por parte do sujeito. Ou seja, o conhecimento do espaço-tempo, que implica um conhecimento de si mesmo, bem como a apropriação do estar/ser no mundo é realizado pelo sujeito numa atividade corporal, que não é simplesmente mecânica ou funcional, nas suas bases um processo emocional/subjetivo de desenrola. Lembrando mais uma vez Maturana é a emoção que nos envolve e nos movimenta para o aprender, o que está envolvido no aprender para o biólogo é a transformação de nossa corporeidade.
O filosófo francês Merleau-Ponty define, ainda nos idos dos anos 60, a relação entre o corpo e o espaço: ter um corpo, para um ser vivo, é juntar-se a um meio definido, confundir-se com seus projetos e empenhar-se continuamente neles. O filósofo afirma ainda que o mundo não é algo exterior ao corpo, mas está integrado à existência pragmática, é sempre aquilo para o que o corpo se polariza, não se trata, portanto, de uma apropriação que o corpo faz do conhecimento, mas de um deslocamento da corporeidade em direção ao que ainda não sabe, porém intui como possibilidade.
Ao organizar o corpo em relação ao espaço-tempo, portanto, o corpo desenvolve habilidades não só relacionadas com um melhor desempenho corporal. Na sua complexidade a composição coreográfica envolve a consciência de si, do espaço (com todas as suas minúcias sensoriais), do tempo (e suas interpretações e agenciamentos), da cultura (com todos os seus mecanismos de felicidade e controle: vide Michel Foucault), da capacidade de abstração, e lógica..  Enfim, todos os quesitos da existência corporal são avaliados, questionados e pressionados por uma investigação legítima em composição coreográfica, já que, como qualquer um de nós pode auferir, os aprendizados são, em sua base, corporais, e é a partir dele, sempre do corpo, que toda uma sempre crescente gama de aprendizagens se tornam possíveis.
É nesse sentido que a corporeidade não pode ser tratada como fonte complementar de critérios educacionais, mas seu foco irradiante primeiro e principal, como afirmam os novos pesquisadores em motricidade. Embora seja forçoso reconhecer que em “nossa educação”, principalmente nas Escolas Públicas, esses conceitos passem a milhas de distância.


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