quarta-feira, 27 de março de 2013

IMPROVISAÇÃO COMO MÉTODO NA COMPOSIÇÃO COREOGRÁFICA

Projeto Urucungo nas Cenas Urbanas -
Festival Visões Urbanas SP -  Foto Jschutze
Por definição, entende-se improvisação como a falta de planejamento na execução de uma ação. Na dança o termo aparece associado à processos onde a criatividade e a execução do movimento ocorrem simultaneamente. Para alguns pesquisadores a improvisação surge como forma de exploração e investigação do movimento, na busca por formas corporais mais expressivas ou na busca por uma maior organicidade na composição coreográfica, para outros a improvisação é o elemento principal da obra de arte.
Acredita-se que a improvisação vem sendo utilizada desde os primórdios da dança, mas foi no início do século XX, que pesquisadores como Françoise Delsarte, Èmile Jacques Dalcrose e mais tarde Rudolph Von Laban, investindo-se de pesquisas a respeito da expressividade corporal passaram a utilizá-la mais sistematicamente em suas pesquisas.
Nos anos 40, a coreógrafa Anna Halprin, insurgindo-se contra o excesso de determinismo e formalidade da dança moderna (leia-se Doris Humphrey e Martha Graham, por exemplo), passa a adotar em seus procedimentos, o que mais tarde veio denominar-se Improvisação Estruturada: onde os bailarinos tinham total liberdade expressiva dentro de premissas ou parâmetros fornecidos pela coreógrafa. Ainda nos anos 40 o coreógrafo Mêrce Cunningham tornou-se conhecido pela utilização dos conceitos Zen-Budistas, em suas criações. Fortemente influenciado pelo músico John Cage, seu parceiro artístico, nas suas obras o acaso, sob a forma de sorteios ou escolhas aleatórias conduziam as apresentações. Às vezes os elementos da apresentação: música, cenário, figurinos, coreografia, luz eram criados e ensaiados separadamente e somente nas apresentações se uniam pela primeira vez.
Foi, entretanto, nos anos 60 em Nova York que a improvisação ganhou notoriedade na dança. Afinados com conceitos culturais emergentes, a espontaneidade, a equidade e a liberdade expressiva passam a tomar parte nas investigações propostas pelo também emergente grupo de bailarinos que se reunia na Judson Church no East Village, formando o grupo JUDSON DANCE THEATER. O grupo iria reformular completamente os paradigmas da dança moderna, ousando colocar em cena, não somente concertos de dança totalmente improvisados, como também trazendo à cena corpos não treinados para a dança.
O conceito de espontaneidade tanto estética quanto ideológica é fundamental para compreender-se a improvisação como elemento incorporado pelos assim chamados Pós-modernos (conforme as historiadoras de dança americana Sally Banes e Cynthia Novak) do grupo JUDSON DANCE THEATER.
Como um desdobramento das ideologias e práticas desse grupo surgem as pesquisas do ex atleta Steve Paxton para a construção do Contato Improvisação, até hoje desenvolvida e praticada por dançarinos de todo o mundo. Fugindo da dramaticidade e psicologismos, e apegados a uma maior equidade, e liberdade expressiva, e às leis da física do movimento, a partir de Paxton, pesquisadores veem desenvolvendo técnicas onde do simples contato físico entre os corpos, a coreografia e a composição são gerados
Seja como exploração do movimento espontâneo do bailarino para uma posterior sistematização da coreografia, seja como exploração da individualidade do intérprete dentro de parâmetros ou tarefas pré-fixadas (improvisação estruturada), ou na composição instantânea, como no grupo Judson Dance Theater, onde a apresentação ou performance acontece de maneira totalmente improvisada, a improvisação tem auxiliado pesquisadores na reformulação de conceitos e práticas para a dança.
Na improvisação o corpo é estimulado a uma maior atenção, não só ao ambiente ou aos outros corpos que dançam, mas também a si mesmo e às próprias reações, possibilitando o surgimento de até então desconhecidos ou inusitados modos de reação e movimentos, tendo com isso a possibilidade e as vezes a necessidade de recriar-se em sua corporeidade.
Quando pensamos no corpo que dança como um corpo que incorpora informações percebidas em tempo real, no meio em que transita, pensamos em instabilidade. O que o corpo faz é buscar meios para estabelecer identidades e estabilidade na sua permanência junto ao meio. Dessa relação surgem diálogos, onde a regra é a continua reorganização de ambos. 

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