Jorge Schutze
Alexandre Constantino/foto JSchutze |
Retirar a
autoridade do coreógrafo sobre o movimento dos bailarinos já era uma tendência
entre alguns pesquisadores, que se utilizavam da improvisação com vistas a
formular suas obras, como é o caso de Anna Halprin, Merce Cunningham, Erik
Hawkins, entre outros. Paxton, entretanto, vem tencionar esse procedimento
opondo-se a utilização funcional da improvisação como enriquecimento das
produções coreográficas: para ele a própria improvisação é tratada como
linguagem cênica, enquanto a simples interação física entre os corpos é tratada
como dramaturgia, por assim dizer, da obra apresentada sempre em improviso.
Para tanto, Paxton articula todo um pensamento entre as danças sociais, a
filosofia oriental, a física contemporânea e o contexto político e intelectual
de sua época.
Alexandre Constantino e Jal Oliveira/foto JSchutze |
Importante
também notar as influências de outros coreográfos na técnica iniciada por
Paxton e desenvolvida por improvisadores no mundo todo. Merce Cunningham,
coreógrafo com quem Paxton havia colaborado já buscava um sentido estético para
a dança no próprio movimento, na própria dança, libertando-a de “simbologismos”
e psicologismos. Erik Hawkins, combinando cinesiologia com a experiência de
sentir sugeria um caminho de reconciliação entre a dança e a sensação de dançar,
propondo um movimento que pudesse ser realizado sem esforço nem pressão, para
um bailarino que conciliasse a experiência intelectual com a experiência
sensorial. Anna Halprin construía estruturas improvisacionais, transformando
cada apresentação num evento único, mas estruturado por “acordos” prévios. Enfim
todo um contexto surgido nos anos 60 nos Estados Unidos já vinha reposicionando
não só a dança nos seus conceitos, mas
toda a experiência artística e intelectual humana e influenciaram decisivamente
as ideias de Paxton: nesse prisma pode-se citar a hegemonia do coreógrafo sobre
os movimentos dos bailarinos comparados com a política dos ditadores por
exemplo ou a ideia de um primeiro bailarino, cujas ações se desenvolvem a
partir dele, como nas dramaturgias tradicionais do balé clássico.
A ideia
orientadora da técnica do contato improvisação, apesar de toda essa influência,
é muito simples: o corpo em relaxamento ativo, ou seja, com o mínimo de esforço
muscular possível, mas atento ao ambiente, a si mesmo e às possibilidades de
ações, se apoia no ambiente dirigindo seus esforços para “empurrar”, a partir
de seus contatos táteis, objetos e corpos do ambiente, gerando assim as danças,
que podem se dar desde num nível mínimo de visibilidade, até movimentos
acrobáticos de grande impacto visual, dependendo da disponibilidade e
treinamento entre os participantes. Requer para isso um acurado treinamento de
“escuta” do corpo do outro e do espaço-tempo, e também um desenvolvido senso de
aproveitamento do “momentum”.
A importância
do Contato Improvisação em outras área além da dança também é muito grande:
áreas como a psicologia, a motricidade, a terapêutica corporal, a educação,
etc. tem se atraído por essa dança, a priori completamente livre de códigos
formais, a fim de aplicá-la como prática de autoconhecimento e treinamento
corporal-psicológico dos pacientes ou estudantes.
2 comentários:
achei super interessante o apanhado de cada Coreógrafo e os pensamentos aos quais eles trabalhavam. Dá pra ver que muitas dessas coisas, que vou chamar de técnicas, ou pensamentos de que lugar começa a construção do movimento, a gente pôde experimentar no curso técnico. Porém superficialmente, na maioria dos casos. Para entrar em sintonia, digam,s assim, com um desses "pensamentos", é necessário de antemão sensibilidade corporal, muita consciência de que forma pode ser feito cada movimento mini ou maxi, e muita percepção do outro, que pode interagir contigo- quais possibilidades de interação com esta pessoa, o que é ou não possível de ser feito com ela, nela, com você junto com ela ou próximo a ela. Dá pra perceber que são pontos diferentes de partida que cada pensador utilizou para estudar e construir sua linha, que aparentemente são simples: aparentemente. Para conseguir com habilidade são necessários estudos contínuos.
é isso mesmo, eu prefiro pensar que cada conjunto é uma situação sempre nova, corpos, espaços, etc. Cada vez que um corpo dança, se relaciona com algo ou alguém, e procura expressão de si num jogo sempre inusitado, demanda sempre bom senso, e um sempre evoluindo sentido de percepção.
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