domingo, 20 de janeiro de 2013

Contato Improvisação





Jorge Schutze

Alexandre Constantino/foto JSchutze
Tendo como coreógrafo o atleta e bailarino americano Steve Paxton, no início dos anos 70, o que tornou-se a primeira experiência pública de contato improvisação foi apresentada na  Oberlin College (obra Magnésium), para uma audiência num estádio. Os movimentos realizados sobre um enorme tatame impressionou a audiência e incentivou o então pequeno grupo de improvisadores. A partir daí, pouco a pouco, outros bailarinos ou não, interessando-se pela técnica vão explorar e desenvolver seus conceitos e práticas até os dias atuais.
Retirar a autoridade do coreógrafo sobre o movimento dos bailarinos já era uma tendência entre alguns pesquisadores, que se utilizavam da improvisação com vistas a formular suas obras, como é o caso de Anna Halprin, Merce Cunningham, Erik Hawkins, entre outros. Paxton, entretanto, vem tencionar esse procedimento opondo-se a utilização funcional da improvisação como enriquecimento das produções coreográficas: para ele a própria improvisação é tratada como linguagem cênica, enquanto a simples interação física entre os corpos é tratada como dramaturgia, por assim dizer, da obra apresentada sempre em improviso. Para tanto, Paxton articula todo um pensamento entre as danças sociais, a filosofia oriental, a física contemporânea e o contexto político e intelectual de sua época.
Alexandre Constantino e Jal Oliveira/foto JSchutze
A influência das danças sociais, especialmente o rock and roll é evidente: dele o contato improvisação emprestou a liberdade expressiva e a democratização da dança, onde não só o bailarino experiente possa expressar-se, já que no contato improvisação, as técnicas dizem respeito a uma melhor utilização mecânica do movimento corporal, qualquer que seja o estágio em que se encontre, podendo ser indiscriminadamente aplicadas às mais distintas histórias corporais, inclusive em portadores de dificuldades motoras. Recebeu também a influência do Zen Budismo, das técnicas marciais e meditações orientais, principalmente o Aikido. Deles, entre outros, o contato emprestou a concentração aberta ao ambiente e seus acontecimentos, o treinamento nas percepções, e as estratégias de oportunidade da ação. Da física contemporânea o contato se apropriou de vários conceitos: gravidade, peso, distância, tempo, espaço, relação entre corpos e o conceito de momentum: um corpo acionado por uma força oposta a gravidade, ou seja atirado para cima, atinge seu peso tendendo a zero no momento exato onde começa sua queda, nesse ponto ao aplicar-se um mínimo de força sobre ele é possível dirigir sua trajetória, qualquer que seja sua massa. Muitas das acrobacias entre improvisadores tornam-se assim viáveis, independente da força muscular que o corpo possa ter. A gravidade é um importante quesito para a dança que se funda sobre essas premissas: O peso, as dinâmicas e relações do movimento corporal são regidos pela física da matéria.
Importante também notar as influências de outros coreográfos na técnica iniciada por Paxton e desenvolvida por improvisadores no mundo todo. Merce Cunningham, coreógrafo com quem Paxton havia colaborado já buscava um sentido estético para a dança no próprio movimento, na própria dança, libertando-a de “simbologismos” e psicologismos. Erik Hawkins, combinando cinesiologia com a experiência de sentir sugeria um caminho de reconciliação entre a dança e a sensação de dançar, propondo um movimento que pudesse ser realizado sem esforço nem pressão, para um bailarino que conciliasse a experiência intelectual com a experiência sensorial. Anna Halprin construía estruturas improvisacionais, transformando cada apresentação num evento único, mas estruturado por “acordos” prévios. Enfim todo um contexto surgido nos anos 60 nos Estados Unidos já vinha reposicionando não só a dança nos  seus conceitos, mas toda a experiência artística e intelectual humana e influenciaram decisivamente as ideias de Paxton: nesse prisma pode-se citar a hegemonia do coreógrafo sobre os movimentos dos bailarinos comparados com a política dos ditadores por exemplo ou a ideia de um primeiro bailarino, cujas ações se desenvolvem a partir dele, como nas dramaturgias tradicionais do balé clássico.
A ideia orientadora da técnica do contato improvisação, apesar de toda essa influência, é muito simples: o corpo em relaxamento ativo, ou seja, com o mínimo de esforço muscular possível, mas atento ao ambiente, a si mesmo e às possibilidades de ações, se apoia no ambiente dirigindo seus esforços para “empurrar”, a partir de seus contatos táteis, objetos e corpos do ambiente, gerando assim as danças, que podem se dar desde num nível mínimo de visibilidade, até movimentos acrobáticos de grande impacto visual, dependendo da disponibilidade e treinamento entre os participantes. Requer para isso um acurado treinamento de “escuta” do corpo do outro e do espaço-tempo, e também um desenvolvido senso de aproveitamento do “momentum”.
A importância do Contato Improvisação em outras área além da dança também é muito grande: áreas como a psicologia, a motricidade, a terapêutica corporal, a educação, etc. tem se atraído por essa dança, a priori completamente livre de códigos formais, a fim de aplicá-la como prática de autoconhecimento e treinamento corporal-psicológico dos pacientes ou estudantes.


               

               



2 comentários:

Ana_Cris disse...

achei super interessante o apanhado de cada Coreógrafo e os pensamentos aos quais eles trabalhavam. Dá pra ver que muitas dessas coisas, que vou chamar de técnicas, ou pensamentos de que lugar começa a construção do movimento, a gente pôde experimentar no curso técnico. Porém superficialmente, na maioria dos casos. Para entrar em sintonia, digam,s assim, com um desses "pensamentos", é necessário de antemão sensibilidade corporal, muita consciência de que forma pode ser feito cada movimento mini ou maxi, e muita percepção do outro, que pode interagir contigo- quais possibilidades de interação com esta pessoa, o que é ou não possível de ser feito com ela, nela, com você junto com ela ou próximo a ela. Dá pra perceber que são pontos diferentes de partida que cada pensador utilizou para estudar e construir sua linha, que aparentemente são simples: aparentemente. Para conseguir com habilidade são necessários estudos contínuos.

Jorge/cia.ltda. disse...

é isso mesmo, eu prefiro pensar que cada conjunto é uma situação sempre nova, corpos, espaços, etc. Cada vez que um corpo dança, se relaciona com algo ou alguém, e procura expressão de si num jogo sempre inusitado, demanda sempre bom senso, e um sempre evoluindo sentido de percepção.

oi meu povo!!!

Bem vindos às pesquisas da cia.ltda.
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