Eliana Kefalás foto João Evangelista |
NOTAS SOBRE VIDEOS
DOMÍNIO PÚBLICO
Eliana
Kefalás Oliveira
SINFONIA PARA POMBOS – Trilogia Pequenos Contágios
O vento balança a música ou é a música que faz o vento
mover-se?
Movimento parcial: o braço em cena espalhando nacos de pão
a bolsa branca em fatias
Quando vejo ela de costas, pergunto-me: é a sombra que fala?
as rodas dão a volta ao mundo
e os
rastros, vestígios do movimento, aparecem
marcas dos pombos e das rodas na areia
é
do vestígio que é feita a arte [OSAKABE – GRANGER],
do que é residual
no contato com o mundo
Quando chega o silêncio, ainda há a música nos contornos dos
nossos ouvidos
Segunda parte:
Ela deita-se no chão: corpo quase pombo
Agora ela não é mais uma só, é mais de uma, duas, dois
corpos que se destacam no azul
um dá o pão
outro dança o dar o
pão
um
contagia o outro
e a dança é o gesto,
a dança não se separa do gesto
ela se desdobra nele, ela é ele
nas suas múltiplas possibilidades
o gesto quando se vê na dança
descobre-se, desdobra-se, recobra-se
[Eu
queria na cena ser o vento que sopra]
O azul para mim
nunca será o mesmo
O detalhe é que
aparece, o detalhe é o que aparece, é o que conta, narram-se episódios que não
cabem em palavras, que não têm cabimento, não têm lógicas, são a força
libertadora do sem sentido.
Afinal, para
que serve a dança, para que serve essa dança, para que serve o vídeo que dança,
videodança?
Dançar para
quê? viver pra quê?
DANÇAR
PARA NADA, DANÇAR PARA O NADA
PARA
VIVER O NADA
nonada,
onada, não há nada tão caro para vida de agora como o viver o nada,
na
vidacorridacontraotempo não sobram horas nem auroras só se quer vitórias sobre
a inglória
a
pressa é o que interessa, o vencer o tempo, correr contra o tempo, safar-se por
um momento,
às
custas da injusta miséria humana
quem é que está atrás da câmera?
quero conversar com quem está atrás da câmera, que me engana
e que faz meu olhar d repente ficar bacana
mesmo que eu recuse a cama, mesmo que eu queira a vida
acobertada pela trama do jogo sacana
quero saber o que você faz com a lente, quer que eu fique
ardente? Quer que eu saiba que o mundo mente?
quero saber quem é aquele que edita e dita pra mim o que se
interdita
quero saber quem é que olha para o azul e me faz de repente
todo nu
quero saber quem é que enquadra aquilo que não diz nada
quero saber o que quer comigo aquele que corta a cena e
entorta o que me faz perigo
quero saber porque não quero mais saber nada
quero saber agora o que faço com a minha estrada
o que faço com a medida do olho, com a vida cronometrada
afasta de mim essa cor, esse vento, essa dor
essas linhas, esses panos, esses traços, tantos trastes
que não dizem nada
que não querem nada
que não tem mais parada
que lugar é esse que não é lugar algum que não é lugar de
apenas um
esvaziar os sentidos das coisas para que as coisas – elas próprias
– apareçam?
o que está sob o meu domínio é o que me faz menino desde que
eu me esqueça?
como é que pode uma cia. limitada em pleno domínio público?
tomaram o que é meu, sequestraram o eu
sobraram ciscos, migalhas
|
|
inutensílio
A ditadura da
utilidade
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem
que ter um para quê (...) O pragmatismo de empresários, vendedores e
compradores, mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. Há
trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o
lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade
corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que
dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente até que a
Bomba de Nêutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedaço de
carne pulsante, único bem de que temos certeza. (Leminski)
quer entender o que viu?
é melhor voltar pra casa
cantando com assobios
eu quero é todo o azul do mundo
dançar de pombo
pra desenhar o tempo na areia
meninááááá,
os seus braços
acordam as asas da gente?
quando na tela a música fez brisa nos seus seios você sentiu
o quê?
das duas uma:
ou sou o vento
ou me reinvento.
dar adeus com o tecido azul
o que sente a bolsa fatiada quando encontra as rodas do
carrinho dando volta na areia?
nada se encaixa nessa caixa que você carrega
esse caminho torto deixa meu olho ainda mais caolho
LIVRE INICIATIVA – Emerson Kennedy
Eu queria ser o nove que te encobre:
quem vê o nove novelando em você
pensa sem querer
o jeito dele se mover
é uma linha que se curva
dobrando
a vida turva
as listras das camisas
vestem o corpo
e mudam de cor
nos bancos da praça
Eita números sortudos
chegam perto do seu umbigo
e quase descobrem seu maior perigo
é arte alagoana
arte que nos engana
faz dançar até os móveis imóveis
do lucro sacana que transforma tudo em grana
espelho, espelho meu
qual é o pente que não penteia
qual é o pano que nos arreia
qual a meia que esperneia
a bunda que redunda
a fita que me estreita
no carrinho
o caminho?
Insisto:
que risco
arisco!
pinta e borda
rola na rua
uma cor diferente
sangra a casa da gente
tinge de cor
a vida alheia
é a cara que nos encara
o risco
arrisca
o risco
2 comentários:
MUITO OBRIGADO ELIANA KEFALÁS OLIVEIRA, VALEU MESMO JORGE,PELO CONVITE E PODER CONTAR CONOSCO PARA ESTE PROJETO... UM FORTE ABRAÇO A TODOS OBRIGADO POR ME PROPORCIONAR MOMENTOS QUE ESTÃO SENDO SIGNIFICANTE PARA O MEU TRABALHO ARTÍSTICO. ESPERO PODER ALGUM DIA CONTRIBUIR AINDA MAIS PARA OUTROS PROJETOS... VALEU CIA LTDA, PROJETO DOMÍCIO PÚBLICO...
AGRADECIDO PELA HOMENAGEM ELIANA KEFALÁS OLIVEIRA, E A JORGE POR PODER NOS PRESENTEAR COM ESTE TRABALHO DANDO A OPORTUNIDADE DE MOSTRAR NOSSO TRABALHO ARTÍSTICO ATRAVÉS DESTAS PERFORMANCES. SOU MUITO GRATO A VOCÊ MEU AMIGO JORGE, POIS SABES O QUANTO FOI PRA MIM DIFÍCIL TRAVAR DENTRO DE MIM O QUE ACONTECEU NO MOMENTO DA GRAVAÇÃO... MUITO OBRIGADO POR COMPREENDER PELA PACIÊNCIA E PELO CONSELHO. UM FORTE ABRAÇO... TE ADORO MUITO...
Postar um comentário